Pesquisadores do Núcleo de Pesquisa e Extensão em Saúde da Universidade Federal de Santa Catarina (NUPES) reuniram e apresentaram, a partir de pesquisas já realizadas no mundo, evidências científicas sobre o impacto dos super espalhadores na pandemia de Covid-19. Em artigo publicado no periódico São Paulo Medical Journal eles sintetizaram os dados com o objetivo de avançar nos estudos relacionados à temática, também pensando em verificar o efeito de estratégias de controle e vigilância. Alguns dos pontos de destaque identificados a partir de artigos publicados foi que um super espalhador pode ter alta carga viral, pode não ser um paciente gravemente doente e possui maior tempo de eliminação do vírus.
Os super espalhadores são aqueles com potencial de propagação superior à média para infectar outras pessoas. Os pesquisadores recorreram a bases de dados nas quais cientistas do mundo todo têm seus estudos divulgados, sem restringir país ou idioma, e chegaram a quatro trabalhos realizados por cientistas chineses. “A comunidade científica precisa de maior profundidade de avaliação e compreensão de como esses pacientes desenvolvem fisiologicamente a capacidade de propagar Covid-19 mais intensamente”, conclui o estudo, que ainda afirma ser necessária uma forma mais simples de rastreio dos espalhadores, já que muitas pessoas infectadas são assintomáticas. A revisão é assinada pelos pesquisadores Ana Paula Schmitz Rambo, Laura Faustino Gonçalves, Ana Inês Gonzáles, Cassiano Ricardo Rech, Karina Mary de Paiva e Patrícia Haas .
Imagem ilustrativa (Imagem de Mohamed Hassan por Pixabay)
Segundo explica a professora Patrícia Haas, do Programa de Pós graduação em Fonoaudiologia da UFSC, os super espalhadores já foram investigados e relatados durante epidemias da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), o que pode indicar que haja evidência de padrões semelhantes na SARS-CoV-2. No entanto, já se percebe, na literatura, uma divergência sobre o que seria um super espalhador. “Enquanto alguns autores defendem ser qualquer pessoa com um poder de contaminação maior do que o ‘padrão’ (contaminar três pessoas), outros defendem que o super espalhamento só é considerado quando uma pessoa infecta mais que outras 10 pessoas”.
Os estudos detalhados e discutidos pelo grupo abordam diferentes aspectos da temática. Enquanto um analisa as características clínicas e de transmissão de 25 casos de Covid-19 em um local, outro investiga 19 casos e suas causas subjacentes. Além disso, uma das pesquisas identificou 34 super espalhadores em 643 grupos de transmissão na China e a outra reportou o caso de um indivíduo que contaminou outros 28. “Este é um dado de extrema relevância, já que, em situações típicas, esperava-se que um indivíduo infectado poderia transmitir o vírus para duas a três pessoas. Esse resultado também reforça a necessidade de identificar de modo precoce os indivíduos infectados e isolá-los”, pontua.
Busca na base de dados não registrou pesquisas no Brasil
A metodologia estabelecida pelo grupo gerou a identificação de 37 artigos relevantes para os interesses de pesquisa, mas acabou excluindo 33 após a leitura do título e dos resumos. Dados específicos do Brasil não foram incorporados na análise pois não apareceram no levantamento. “O tema aponta avanços em termos de Saúde Pública e direciona as políticas de saúde, mas poucas pesquisas foram realizadas até o momento em âmbito mundial”, analisa a professora.
O que parece claro ao grupo, no entanto, é que o diagnóstico precoce da Covid-19 é essencial para o controle da disseminação. Também a dificuldade na identificação dos super espalhadores faz com que as medidas preventivas devam ser ainda mais rígidas. “O indivíduo pode ser ativo em atividades sociais e ter chances de entrar em contato com muitas pessoas dentro de um curto período de tempo”, afirma. “As medidas de proteção individual pela população são essenciais, como uso de máscaras, uso do álcool em gel, lavagem correta das mãos, além de evitar aglomerações, mantendo assim o distanciamento social”, indica.
Outra questão importante com relação às políticas públicas diz respeito à implementação de estratégias como testagem em massa e desenvolvimento de sistema de vigilância de casos ativos. Ambos garantem menor efeito dos espalhadores. O rastreio dos casos ativos, por exemplo, prevê a testagem de todas as pessoas que tiveram contato direto com um indivíduo que testou positivo. “Sem essas estratégias, os indivíduos assintomáticos e com elevada carga viral tornam-se potenciais super-espalhadores“, explica.
Os resultados também apontam para aquilo que já é consenso entre a comunidade científica. “Enquanto não houver a imunização coletiva via vacina da população é preciso manter o distanciamento físico, higienização das mãos, uso de máscara, testagem em massa da população e rastreamento de casos ativos”, sintetiza. A situação, de acordo com a pesquisa, parece ainda mais grave por conta do surgimento de novas cepas de vírus que apresentam maior taxa de transmissão. “Pelo fato de a Covid-19 possuir sintomas muitas vezes atípicos, pode apresentar uma tendência de super disseminação, já que dificulta a identificação de casos que são mais leves”, finaliza.
Amanda Miranda/Agecom/UFSC
Fonte: https://noticias.ufsc.br/2021/03/o-que-se-sabe-sobre-super-espalhadores-de-covid-19-grupo-da-ufsc-reune-e-sintetiza-estudos-sobre-o-tema/